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Há 50 anos, nascia oficialmente a pós-graduação na Universidade Federal da Bahia. A aprovação do regimento para o funcionamento dos primeiros cursos de mestrado da UFBA aconteceu na sessão do Conselho Universitário, realizada no dia 23 de novembro de 1967 e presidida pelo reitor, professor Roberto Santos. De acordo com uma pesquisa realizada pelos professores Dora Leal Rosa e Robert Verhine, “a pós-graduação na UFBA nasceu com a missão de ampliar a qualificação dos docentes que já ministravam aulas nos cursos de graduação da Universidade e os cursos de mestrado deveriam oferecer disciplinas que cobrissem as cinco grandes áreas do conhecimento”.
Apesar da Portaria nº 384 de 14 de dezembro de 1967, baixada pelo reitor em exercício, Hernani Sávio Sobral, designar professores da casa para coordenar seis cursos de pós-graduação – Arlete Lima para Matemática; Alexandre Costa para Biologia; Antônio Machado Neto para Ciências Humanas; Raphael Selling para Química; Juarez Paraíso para Desenho e José Walter Vidal para Física – apenas dois cursos começaram, efetivamente, a partir do ano seguinte. “Dos cursos relacionados na portaria da Reitoria, somente Química e Ciências Humanas iniciaram as aulas, a partir do mês de maio de 1968. Infelizmente, naquela ocasião, os mestrados nas áreas de Desenho e Física não foram implantados e ainda não temos informações precisas sobre o mestrado em Biologia. O curso de pós-graduação em matemática só se efetivou em 1969”, garantiram os professores Dora e Verhine.
Embora a área III (Humanas) tivesse sido a pioneira a lançar edital de seleção para a pós-graduação para o mestrado em Ciências Humanas, não foi a que evoluiu mais rapidamente, de acordo com o relatório do ano de 1974, sobre a demanda do ensino de pós-graduação na UFBA - cadastro de pós-graduação da Assessoria de Planejamento. O documento registra que em 1969, a expansão da pós-graduação se deu na área I (Exatas) com o funcionamento de quatro programas – Geofísica, Geociências, Química e Matemática – indicando a “política acertada da UFBA em desenvolver o conhecimento nos domínios das ciências exatas e da tecnologia, pois era o setor do conhecimento humano que mais requisitava especialistas pesquisadores, na sociedade daquele momento”.
De acordos com os dados estatísticos reunidos, naquele ano havia 88 estudantes matriculados em cursos de pós-graduação stricto sensu, que estavam sob regulação da Câmara de Pós-Graduação da Universidade, regidos por normas e requisitos do Conselho Federal de Educação. Entretanto, o professor Verhine destacou que anterior à resolução de 1967, a UFBA já tinha experiência com pós-graduação, mediante iniciativas isoladas, oferecidas por algumas unidades de ensino como cursos de doutoramento nas faculdades de Medicina e Direito e uma pós-graduação em Geofísica, impulsionada para as pesquisas na exploração de petróleo pela Petrobrás. “Mas ainda não temos conhecimento de como aconteciam essas atividades e os critérios de avaliação para obtenção dos títulos”, disse o pesquisador, citando a ausência de documentos comprobatórios e enfatizando a necessidade de recorrer às "lembranças da memória de alguns egressos daqueles cursos, pois já se passaram mais de 50 anos", ponderou o professor.
Uma pesquisa norteada pela curiosidade
A professora aposentada e ex-reitora da UFBA, Dora Leal Rosa, conta que sua curiosidade foi despertada para saber mais sobre a história da pós-graduação na UFBA após receber uma demanda da Fundação Perseu Abramo, para verificar quem compôs a comissão que analisou a dissertação defendida pelo professor, no mestrado em Ciências Humanas, no começo dos anos de 1970. Dora lembrou que buscou informações na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), na antiga Secretaria Geral de Cursos (SGC) mas não achou documentos. Então, dirigiu-se à Faculdade de Direito, onde está o arquivo do professor Machado Neto e contou com a ajuda da arquivista Solenar Nascimento. Apesar de não ter achado o documento específico sobre o professor Abramo, encontrou diversos relatórios e documentos interessantes, referentes aos anos de 1968, 69 e 70 sobre o mestrado em Ciências Humanas.
Compreendendo a relevância do achado para a história da Universidade, a professora aposentada da FACED buscou o professor Robert Verhine como parceiro para empreender a investigação, já que por muitos anos, tinha dividido com ele, a ministração da disciplina metodologia de pesquisa, no programa de pós-graduação da FACED/UFBA. Norteados pelo escopo limitado de conhecer os primórdios da pós-graduação na UFBA para apenas publicar um artigo, eles iniciaram a pesquisa no último mês de maio e pouco tempo depois, o coordenador da pós-graduação, professor Ronaldo Oliveira, solicitou que ampliassem a investigação a fim de levantar material para a comemoração das cinco décadas da pós na instituição.
“Como um material puxa o outro, fomos fazendo várias descobertas interessantes”, contou a educadora, acrescentado que até é possível “reconstruir algumas histórias dos bastidores da academia e assim, saber mais como se deu o processo de elaboração das normas e construção dos ritos e procedimentos que vigoram até hoje, na pós-graduação. Para o reitor João Carlos Salles, a “recuperação da nossa memória é de grande importância para a organização da instituição” de tal modo que ele mesmo, incentivou a produção e publicação pela Editora da UFBA de um volume ilustrado, reunindo o conteúdo obtido com a realização da pesquisa, para ser lançado no mês de maio de 2018 – momento em que completam os 50 anos do início das aulas dos cursos de pós-graduação, implantados na UFBA.
Os dois professores pesquisadores também reconhecem a necessidade de resgatar a história, apesar de saberem que “há lacunas e falhas, devido à ausência de muitas atas e documentos e por isso, será um trabalho difícil mas que contribuirá muito para planejar o futuro”, reconheceu Verhine, que foi pró-reitor de ensino de pós-graduação no reitorado da professora Dora. Para ampliar o material da investigação, eles contam com a colaboração e solicitude dos profissionais que atuam nos vários arquivos da UFBA e também de entrevistas que já foram realizadas com uma dezena de egressos desses mestrados e que também serão feitas como outros professores eméritos da instituição.
Enquanto Dora mostra-se deslumbrada com as descobertas obtidas a partir das inspeções pessoais aos arquivos, “usando máscaras e lupa”, o professor Verhine declara que é “o momento é maravilhoso para a Universidade, pois há um esforço na busca para conhecer a trajetória de seu corpo docente”. Por outro lado, começa a expectativa de vários segmentos para ler sobre a história das cinco décadas da pós-graduação na UFBA, que estará acessível a todos em livro que será lançado no ano que vem.